sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Portugal Gastronómico # 74 - Leiria

(Fonte: Wikipedia)

(Fonte: viajar.clix.pt)

Produtos DOP e IGP:

Pera Rocha do Oeste DOP


Bebidas:

Vinhos

IGP Lisboa, Sub-região Alta Estremadura

DOP Encostas d'Aire

Outras



Produção concelhia:


- Brisas do Lis (Pastelaria Luziclara - Tel.: 244 833 148)
- Mel (Associação de Apicultores da Região de Leiria http://www.aarleiria.com/ | aarleiria@gmail.com)
- Morcela de Arroz (Associação de Produtores da Morcela de Arroz de Leiria morcela.arroz.leiria@gmail.com)


Produtores / Fabricantes:

Vinhos
Caves Vidigal, S.A.
Estrada da Ribeira, Quinta da Batarra, 230, Cortes 2410-502 LEIRIA
Tel.: +351. 244 819 480 ; E-mail: info@cavesvidigal.pt ;www.vidigalwines.com

PAÇO DAS CÔRTES , Lda.
Estrada Principal, 355-A - r/c Esq.º - Cortes - Apartado 501, 2416-904 LEIRIA
Tel.: +351.244 691 233 ; E-mail: info@pacodascortes.pt ; www.pacodascortes.pt


Pratos típicos característicos do concelho:

Bacalhoada com migas; Bacalhau com feijão frade;  Bacalhau com Chícharos (Santa Catarina da Serra)
Ossinhos;
Fritada à moda de Leiria (receita);
Morcela de Arroz (receita); Negritos; Lentriscas;
Cabrito (receita); Leitão; Chanfana (Chainça);
Feijoada com cabeça de porco (receita);
Fritada dos peixinhos.

Doces Regionais
Brisas do Lis (receita);
Lampreia de Ovos; Ovos Folhados;
Bolinhos de Pinhão (receita);
Castanhas queimadas;
Canudos de Leiria (receita);
Doce de amêndoa (receita);
Filhós de abóbora.


Restaurantes referenciados:

Além da doçaria, Leiria não tem um pecúlio gastronómico vasto. Apesar da diversificação desenfreada de restaurantes, não se encontram nos seus cardápios pratos típicos da cidade do Lis porque os não há. Além da gorda morcela de arroz dos Marrazes e de raros enchidos de memória judia (à base de aves e de carneiro, como os "maranhos" da Beira Baixa), Leiria pouco tem para oferecer de originalmente seu.


Nem por isso os restaurantes tem menor soberba pantagruélica: é usual deglutir santificadas quintas-feiras de Cozido à Portuguesa (dia estigmatizado para tal comezaina), gordurosas dobradas com feijão branco, requintadas feijoadas de chocos ou ensopados de borrego, para além dos internacionais escalopes aux champignons, das lulas à espanhola ou do pato à Pequim.


Até que há nomes nacionalmente conhecidos na multifacetada cozinha leiriense: recorde-se a Tromba Rija, nos Marrazes, o Casarão, na Azoia, o Saloon, na Ortigosa, a Adega, em Montijos-Monte Redondo, a Caravela, em Carvide, para só falar dos que, mais chegados à sede do concelho, tem sido honras de páginas de jornal.


Nestes, e noutros, encontrará entradas de enchidos, queijos e frutos secos (Tromba Rija, Casarão, Saloon, Adega), de "jaquinzinhos" fritos e toucinho na brasa (Antunes), feijoada de chocos (Manel da Quitéria), "ossobuco" (Parreirinha, Monarca), grelhados variados (Carvalho, Fernando Santo, Maneta - todos nas Cortes -, Adega), leitão (Morgatões - Boavista), feijoada (Tromba Rija), arroz de lampreia (Casarão); se prefere um petisco rápido, tem o D. Abade, o Fausto ou a Adega dos Pescadores, todos na cidade, que, juntamente com pratinhos de ossos, de dobradinha e outros, lhes apresentam excelentes lotes de vinho das Cortes, da Touria ou do Vidigal, para além das marcas que o País consagrou.


No caso de apreciar uma boa ceia com frutos de mar e boa cerveja de pressão, vá então ao Lis-Bar, ao Manel da Quitéria, ao Armando (S. Romão), ao César ao Grill-Bar, ao Abrigo ou à Cervejaria D. Dinis. Mas se prefere lugares mais calmos, escondidos dos néons das cervejarias, pode optar pelo Bar 1900 (Residencial Ramalhete), o Bar Santo Estêvão (ao Terreiro), ou o Ébaristo, entre outros. Ás quintas-feiras tem música ao vivo no Bar do Hotel D. João III, ou todos os dias no Pianus Bar, na Praia da Vieira.


(in Leiria, de Lucília Verdelho da Costa, via Alfredo Brites)

TROMBA RIJA MARRAZES-LEIRIA
Rua Professores Portela, 22, 2415-534 Leiria
Tel.: 244 852 277 ; elisabete@trombarija.com

Tromba Rija - Mesa de entradas
(Fonte: Site do restaurante)
O CASARÃO
Azoia
Tel: 244 871 080

SALOON
EN109, Quinta do Paúl, Paúl
Tel: 244 613 438

ADEGA - CASA DE PASTO
Brenha - Monte Redondo
Tel: 244 685 563 


RESTAURANTE RESIDENCIAL CARAVELA
Carvide - Monte Real
2425-000 Carvide
Tel: 244 612 489

RESTAURANTE O MANUEL DA QUITÉRIA
Rua Doutor Correia Mateus 50
2400-127 LEIRIA
Tel.: 244 832 132


Eventos de teor gastronómico:

Festival da Sardinha, Praia do Pedrógão

O cardápio apresentado pelos restaurantes que aderiram a este evento é a sardinha assada. Em Junho/Julho.
Organização: Junta de Freguesia do Coimbrão | www.jfcoimbrao.pt| jfcoimbrao@mail.telepac.pt


Festival Regional de Gastronomia de Leiria
Na primeira semana de Setembro, ao longo do Marachão, em Leiria. Oferta de produtos gastronómicos que passam pelos pratos regionais servidos nos restaurantes presentes, vinhos, doçaria, fruta, mas também ervas aromáticas e produtos naturais, livros e ainda a Feira do Mel. 
Organização: Turismo de Leiria – Fátima e Câmara Municipal de Leiria | www.rt-leiriafatima.pt | info@rt-leiriafatima.pt

Festival Cultural e Gastronómico “O Chicharo da Serra”
A Freguesia de Santa Catarina da Serra organiza o Festival Gastronómico e Cultural “O Chícharo da Serra”, em Novembro, em Santa Catarina da Serra, Concelho de Leiria.
É um espaço composto por várias tasquinhas, onde os visitantes têm a oportunidade de provar o prato principal do evento: Chícharo. Outros produtos poderão ainda aqui ser encontrados, tais como mel e vinho, sem esquecer o artesanato regional. 
Organização: ForSerra - Associação Desenvolvimento e Gestão Património de Santa Catarina da Serra | www.ochicharodaserra.com | ochicharodaserra@santacatarinadaserra.com


Agradecimentos:

Região de Turismo de Leiria-Fátima


Bibliografia:
Produtos Tradicionais Portugueses, Ed. M.A.D.R.P, 2001
Guia de Compras-produtos Tradicionais 2011, Ed. QUALIFICA/Publiagro
Vinhos e Aguardentes de Portugal, Anuário 2009, Ed. Instituto da Vinha e do Vinho I.P.

EM CONSTRUÇÃO - O post irá sendo actualizado à medida que novas informações sejam obtidas.
Achegas e comentários, bem vindos como sempre

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Punjabi kitchen

A partir de cima e seguindo o sentido dos ponteiros do relógio:
Lachha paratha, Roti e Punjabi samosa, sobrepostos
Chutney de manga e molho picante
Chana
Navratan korma
... e mais um senhor que não vinha na lista... 

"Com a divisão da Índia e o subsequente holocausto, milhões de refugiados do Punjab inundaram Delhi, mais do que quadriplicando a sua população numa leva dolorosa. (...)

O Punjab, já dividido entre a Índia e o Paquistão foi ainda mais dividido entre os estados indianos  do Punjab e de Haryana. A cidade de Lahore, com todo o glamour e vitalidade de Paris, foi perdida para o Paquistão, assim como os pomares de gloriosamente suculentas maltas, laranjas dum vermelho sanguíneo, de Gujaranwala. Açucarados melões sarda, delicadas uvas sem grainhas, com as quais o meu avô fazia vinho na sua adega e sultanas que chegavam rotineiramente do Afeganistão, desapareceram dos mercados. Apesar de tudo, o Punjab conseguiu prosperar. Talvez fosse a natureza do seu povo tenaz. (...)

Alguma da melhor comida Punjabi é comida campesina, baseada em bom leite, coalho, ghee, e produtos acabados de colher. (...)

Os refugiados Punjabi trouxeram a sua refinada cozinha para Delhi: parathas folhados - pães redondos - recheados com rabanete ralado ou sementes de romã; amanteigadas folhas de mostarda (sarson da sag) para serem comidas com pão de milho acabado de fazer, engolidas com enormes quantidades de batido de coalho; feijão-frade ou feijão encarnado longamente estufado em lume brando; e o especial dos dhaba (restaurantes baratos), amado por todos os estudantes à procura de uma saborosa pechincha, chana-bhatura, grão guisado muito condimentado, comido com pão levedado frito."
(Madhur Jaffrey, A Taste of India)



"Os Punjabi como raça são de sangue quente. Vivem a vida ao máximo. Não deixam nada por fazer. O ethos Punjabi parece ser emocional, sem restrições e de viver com o coração ao pé da boca.

"Dildaar" ou de coração grande, é um termo que lhes é associado

Pense Punjab e pensará em campos verdes, festividades, emoções, cores vivas, música espampanante, céu azul e rios rejuvenescedores."
(Por finely choped)


"Comer num "thali" (um prato de metal ou uma folha de bananeira) é bastante comum em muitos locais da Índia. Tanto o "thali" do Norte como o do Sul contém pequenas tigelas dispostas no interior do aro do prato (ou folha), cada uma cheia com diversos tipos de comida vegetariana condimentada, coalho e doces. No centro do "thali" encontrará um montinho de arroz, alguns puris (pão de trigo de forma redonda, mergulhado e frito em óleo) ou chapatis (pão de trigo circular de tamanho maior, frito em pouco óleo numa 'tava quente). Os indianos lavam as suas mãos imediatamente antes e depois da refeição e acredita-se que a refeição sabe melhor se comida à mão.

O "paan" é servido como digestivo depois de algumas refeições. A folha verde-escura da betel é salpicada com um pouco de sumo de lima e enrolada com uma combinação de especiarias como grãos de betel esmagados, cardamomo, anis, açúcar e coco ralado. É adstringente e acredita-se que ajude a purificar o sistema."

Uma refeição diária dum agricultar Punjabi estaria centrada à volta do pão, pão de milho, vegetais e coalho (lassi). O lassi é iogurte batido e pode ser tomado doce ou salgado, sendo usualmente bastante espesso."
(Anjana Srikanth)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

GastronoVia

Temos comida de rua?

Vendedora de petiscos, 1907
(Autor: Joshua Benoliel ; Fonte: Arquivo Fotográfico de Lisboa)
É o buzz mais buzz que me chegou aos ouvidos nos últimos tempos e parece ser a loucura em cidades que se fizeram cosmopolitas por via das inúmeras camadas migrantes que as foram construindo e preenchendo. É uma tendência? É uma moda? É a passagem à maioridade de uma cozinha para as classes operárias? É a orientalização do Primeiro Mundo?

Quem sabe.

Nós por cá, sempre arredados da primeira fila (ainda que, mercê da rapidez e facilidade de propagação da contemporaneidade, cada vez mais chegados às suas costas), continuamos a desdenhar e, consequentemente, a pouco exigir, da (reduzida) herança de passeio que recebemos.

Temos comida de rua em Lisboa? Temos alguma (e vou-me abster de pós-mencionar as roulotes pós-ASAE)...

Obviamente as outonais castanhas assadas. Ainda que aparoladas pela erudita proibição do seu embrulho em páginas da lista telefónica e amesquinhado o português desenrascanço do conjunto triciclo-assador (chegará o dia em que veremos dili-agentes públicos a medir a quantidade de dióxido de carbono expedido pelo assador), são um ex-libris do Outono: o seu odor anuncia-o e a sua ausência faz-nos ansiar pelos dias nevoentos de folhas caídas e cachecóis bem chegados ao pescoço.


São deliciosas quando bem feitas, aquecem-nos os dedos e a vida e deixam a milhas as pálidas imitações  externas. É bem nacional aquele assador de barro, é bem nacional o silêncio que paira à sua volta, a mística de toda a cena, em que o vendedor é o oficiante e o fumo que sobe, os vapores do incenso.



Inevitáveis num tempo em que um homem não era bom chefe de família se não fosse à bola com o ir à bola domingo-sim-domingo-não (e ficar sentado à beira do rádio a ouvir o relato domingo-não-domingo-sim), os assadores junto aos estádios foram também comida de rua festiva. Um courato e uma cerveja que melhor maneira de entusiasmar para a refrega, festejar ou consolar?

Courato, courates, durante anos assim se declinou a fome futebolística. Sinónimo de pobreza de espírito ou de rudeza de gosto, estão quase erradicados da vida lisboeta (incidentalmente, os jogos domingueiros também), substituídos pelas higienizadas, desinfectadas, anestesiadas roulotes.

Talvez a mais tradicional e generalizada comida de rua, esteja, não na rua, mas virada para a rua, naquelas montras de fogão a tiracolo e expositor contíguo.



Bifanas, pipis, croquetes, chamuças, pasteis de bacalhau, ali bem à mão de semear, prontos a satisfazer o súbito desejo que surge a qualquer passante com atenção.

Haverá candidaturas para a mudança? Imaginação e mais compreensão precisam-se.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Gastroescritas - Ljubomir papa tudo, tudo, tudo

Porque nos condenamos a só nos descobrirmos pelos olhos dos estrangeiros?

Perante essas dicotomias fortíssimas, de sermos fortes lá fora naquilo que nos enfraquece cá dentro e de não credibilizarmos o que cá dentro é feito em detrimento do mesmo que nos entra pela fronteira, como poderemos algum dia sair deste apertado colete que nos condiciona presente e futuro?

Foram estas as primeiras ideias que me surgiram enquanto folheava o nóvel livro do Ljubomir Sem Maneiras Stanisic.


Logo a seguir pensei  o que os antigos me ensinaram: que, sendo a história da arte o registo da contínua oposição entre Apolo e Dionísio, entre a contenção e a explosão, entre o interiorizar e o exteriorizar, o barroco é um dos cumes da supremacia do segundo. Terá direito a todas as censuras do mundo, pelo pecado da soberba, pela ânsia de a todos querer agradar, colocando camada sobre camada de pormenores, pela maníaca obsessão em acrescentar algo mais, retocar ainda mais, pormenorizar ainda mais; mas que magnífica adrenalina para todos os nossos sentidos, que estimulação infindável, que prazer da descoberta continuamente renovado!

Graficamente, este Papa Quilómetros é completamente barroco: excessivo, cada página é uma exaustão de imagens, de letterings, de fontes, desenhos, anotações, esquemas, cores, grafismos e muito mais, de acordo com o que parece ter sido a vontade de cada momento ou a inspiração de cada local, cada ingrediente, cada prato, cada companhia. O que não é forçosamente mau. A mim estimula-me. Mas acaba, mais cedo ou mais tarde, por ser extenuante e exigir descanso.

Graficamente.

Tematicamente, é um deleite, um prazer, uma agradecida e bem vinda descoberta (ou redescoberta) de locais, usos e ingredientes que - e aí volto à primeira ideia revelada atrás -, pelos vistos, só os estrangeiros que por nós se perdem (veja-se o trabalho do Aimé Barroyer) parecem saber descobrir e dar relevância.

Dez locais revelados, experimentados, vividos, eu diria tutaneados, pelo chef e sua equipa (a jornalista/cronista/memorialista, o fotógrafo, o designer, o ilustrador, o estojo das facas), do Gerês à Ilha do Farol, de Chaves a Vila do Bispo. Nativos ingredientes, das molejas de vitela barrosã ao sarrajão olhanense, da carqueja aos abrunhos, da lambujinha  ao funcho do mar. Gente, amigos, entusiastas, investidores loucos na actividade de risco que é viver da agricultura, da pesca, da agricultura biológica, do turismo rural.

Um país que nos comove por ainda existir apesar da modernidade novo-rica e industrial que nos atacou desde há umas décadas, um país que ainda nos relembra que há mais vida para além das políticas.

A completar, oitenta receitas que não são nem originais nem cópias, antes recriações de todo o mundo que o chef já viveu, das sopas de cavala às caldeiradas, do xarém de ovas de polvo ao kadum butic, do arroz de carqueja ao arroz de pata, da aletria de tinta de choco às migas com lambujinhas, da requeijada ao gelado com queijo de figo.

Assim houvessem muitos, para nos alegrar vista e alma e mais nos incentivar à redescoberta e reanimação de um país, o nosso país.

PAPA QUILÓMETROS, Uma Caminhada pela Gastronomia Portuguesa, Ljubomir Stanisic, Ed. Casa das Letras, 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal II - Um presente de Bourdain

Para os incontáveis fans deste blog que são também do Anthony No Reservations Bourdain, deixo uma prenda no sapatinho. (Não, não é a fotografia...)

(Fonte: wired.com ; Foto: Chris Leschinsky)
Depois de 7 anos com o multi-premiado programa No Reservations, Bourdain estreou uma nova proposta, denominada The Layover. "O que você faria numa cidade, se só tivesse 24 horas disponíveis?" é o conceito base. (Melhor que eu resumir, mais vale ler-se a entrevista que o próprio concedeu no mês passado à Wired aqui).

(Carregar aqui)
Como não gostaria que vos faltasse companhia neste Natal, nem ficheiros para colocar no i-pad ou no i-phone ou no i-velhinho-portátil-como-o-meu-que-ainda-se-aguenta-bem-nas-curvas-porque-para-o-ano-vá-lá-saber-se-o-que-para-aí-vem, aqui deixo um site onde descobri links para os cinco primeiros programas.

Há algum pai Natal mais bom que o Gastrossexual? (Há, mas não é a mesma coisa)

Importante: Os links são só para informação... Nada de pedir emprestado, sim? Sim.

Natal hoje - I

Peço desculpa, mas o bacalhau não é tradicionalmente natalício cá na minha rua.

Não sei porquê. Passa a porta muitas vezes no ano, transmutado em várias das incontáveis (dizem que, como os queijos do général - que sobre o número duvidava -, há pelo menos uma para cada dia do ano) receitas nacionais mas, vá-se lá saber porquê..., neste dia de aniversário familiar, não.

Para manter as citações em solo gáulio, existe uma aceite detente cordial, entre rissóis de camarão e torta dos mesmos para se alternarem na vertente peixe, enquanto o peru (antes a perua, mais maneirinha que os convivas se vêm reduzindo mercê da vida) oficia (de 24 aos Reis, benza-o Deus que primeiro que acabe é um enjoo) anualmente do lado proteico.

Como a memória já não recita tão bem, pânico há pouco nas hostes culinárias: qual a relação água/farinha para fazer a massa dos rissóis (este ano, rissóis, sim, vê-se mesmo que não leram o post do ano passado)?

Corrida rápida à Dona Mirene, o livro de sempre desde o estado pré-matrimonial da patriarca. É melhor deixar a receita por aqui, mais fácil de ir buscar que o calhamaço que não tem google incorporado e está menos à mão que o futuro i-pad.

MASSA PARA RISSÓIS

1 chávena (das almoçadeiras*) de leite
1 chávena (das almoçadeiras*) bem cheia de farinha
1 colher (das de sopa) de manteiga ou margarina
Sal a gosto

Põe-se num tacho o leite, a manteiga, sal ao paladar e leva-se ao lume.

Logo que levanta a fervura deita-se-lhe a farinha de uma só vez e bate-se com uma colher de pau até ficar numa bola sem grumos.

Deixa-se ao lume a cozer e quando se despegar bem do tacho está a massa pronta.

Estende-se com o rolo da espessura de uma moeda de tostão (**) e em seguida cortam-se os rissóis.

Notas:
* - Ao contrário do que possa parecer, numa almoçadeira não se almoçava; antes se pequeno-almoçava ou lanchava (ou até ceava) de preferência café com leite. Nahhhh, se não gosta de café com leite, não use almoçadeira. Um copo de três para os enófilos ou - hélas - um daqueles copázios versão ikea, para os milk drinkers.

** - Não conhece o tostão (não o grande jogador brasileiro - a versão portuguesa)? Não se preocupe. Um dia destes anda por aí outra vez.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um Pitéu na Graça

O que seria do entusiasmo se não fosse a vida a comprová-lo?

Tome-se um passeio pela Graça que tem graça começando pelo miradouro da Senhora do Monte onde têm assento reservado as grávidas devotas de S. Gens. Aí está Lisboa: apetece-nos fazer como o Ary e, com um cotovelo no castelo, senti-la a ponto luz bordada, amada, cidade da nossa vida. Depois, descendo sempre sem a perder de vista, com o castelo em ponto de mira, fazer um desvio pelas vilas operárias e encantarmo-nos com esses pedaços de memórias estranhas ao nosso quotidiano de urbanidade, tão apoucado pela má arquitectura. Arte nova de um lado, um pátio gracioso num interior de um quarteirão austero que seria parisiense não fora os modos portugueses que apresenta em alguns pormenores, do outro.


O Botequim que já não tem Natália apesar de reaberto. Mais lá para o fundo S. Vicente de Fora e Santa Engrácia com a cúpula fora de proporção a que já não ligamos porque, ao longe, já nos chama o miradouro da Graça, com a Mouraria a levar-nos o olhar até à Baixa, ao Carmo, à Estrela, ao mundo ou ao Tejo que ao mundo já nos levou também.




Um êxtase. E assim confortados no coração e na cabeça (sentir é pensar, certo?) corramos a completar esta trilogia camiliana e assentemos praça no Pitéu que há muito oficia ao lado dessa outra praça... de armas que é o quartel da Graça, monumento nacional desde os inícios da república, infelizmente fechado aos olhares públicos.

Amesendados, dispensemos a lista, apesar das tentações do bom peixe, das iscas e dos rins e - coragem! - dos jaquinzinhos no tempo deles. Aqui, o obrigatório são os filetes. Provem-se estes.  Depois, agradeça-se à vida o ainda nos disponibilizar estes momentitos de excelso prazer.


Preço: $ (<15€)

Largo da Graça, 95, Lisboa
Tel.: 21 887 10 67‎
Fecha aos sábados (jantar) e domingos

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Meia Lua em Lisboa

Longe vão os tempos da griffe, com os almoços cheios de mediatizados e os jantares muito in. Longe também um dos dois sócios que "fizeram" a casa, António Cardoso Ribeiro, há alguns anos desligado do projecto e a comandar outra nau (La Spianata). Longe a espaços também o agora único responsável, o chef Michele Guerrieri, com uma cada vez melhor sucedida carreira em Nova Iorque com a sua casa de sanduiches slow-food-italisnyc.

Apesar dos anos passados sobre a abertura (1998) e do afastamento das bocas do mundo, o Mezzaluna continua de porta aberta, na que será (foi?) a mais italiana das artérias lisboetas, em convívio com a Trattoria, o La Campania (e mais em baixo, o La Brusketa).

Casa cheia no jantar de Sábado - afinal ausência de buzz não implica menor fervor... -  com direito a ministro discreto (que os anos não são os dourados noventa).

Serviço atento e correcto.

Experimentados, como entrada o Prosciutto sott'olio com mozzarela fresca e folhas de courgette salteadas -  


bem apresentado, o mozza um bocadinho entradote nos dias, o presunto muito bom.

Como principais, o lavagante com spaghetti al nero di sepia - especial do dia - também cumpridor (pena dar uma foto tão pobre),


e o Tagliatelle com Tiras de Pato Assado, Cebola Caramelizada, Azeitonas Pretas, Redução de Vinho Branco, Cobertos com Bacon Crocante.


Saborosos, fora do caminho batido, mas um caminho seguro.

Para acompanhar, este Dona Matilde sugerido, um bocadinho over-priced, mas que não deslustrou.


Que dizer desta Lua? Que já passou os ardores da juventude, a descoberta da juventude, as promessas da juventude mas que, na calmaria da meia-idade, ainda sabe oferecer um porto seguro para quem não gosta de arriscar gastronomicamente ou procura grandes emoções. Pessoalmente, pelo valor pago, prefiro mais entusiasmo.

Preços: $$$ (>30€)

Rua Artilharia Um, 16, Lisboa
Tel. : 21 387 99 44

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Natal, Guia de Compras - II

Numa reincidência de Natais, a Mercearia Criativa aí está pujante no seu conceito original: uma loja que é de bairro mas que é do mundo, o nosso mundo rural, cosmopolitizado pelos cada vez mais visíveis produtores de nova geração.

(Fonte: Mercearia Criativa)
A Mercearia é a garrafeira do Carlos e as charcutarias, queijos e demais bombons salgados da Susana e mais os petiscos que se podem degustar cá fora, na esplanada, enquanto se vê quem passa ou se lê qualquer coisinha que não seja do Guerra Junqueiro (pode ser do Junqueiro; é só má vontade minha).

Tem uma acção gastrocultural cada vez mais relevante, com os seus lançamentos gastronómicos e enófilas provas. Produtos de marca própria - dos quais destaco, sem sombra de dúvida, os pickles de batata doce -, também os há.

(Fonte: Mercearia Criativa)
E workshops vários, bem temperados.



No Natal há encomendas, do pão-de-ló de Ovar ao bolo-rainha; da tarte às broas de amêndoa e de noz; do pão da Maçussa;  de ostras do Sado; dos croquetes de pato às empadas e bolinhas de leitão da Bairrada - só até dia 22 de Dezembro, para garantir stocks e prevenir excessos. Há os cabazes que o ano passado foram sucesso de vendas e prendas e este ano vão pela mesma, mais diversificados ainda.

Por tudo isto e muito mais que ficou por dizer - já me esquecia da extrema simpatia da Susana, do Carlos e de todo o staff - a MC é uma paragem altamente recomendável, de Janeiro,1 a Dezembro,31. Agora então...











Av. Guerra Junqueiro, 4 A, 1000-167 Lisboa
Telefone: 218 485 198
http://www.merceariacriativa.com
http://twitter.com/MerceariaMC
2ª- Sab: 10:00-20:00

Natal, guia de vendas - I

Começo por uma neófita nestas andanças das Festas, inaugurada que foi já este ano pelos idos de Maio: a Bagos & Especiarias (para os amigos; o nome oficial é Grapes & Spices), loja que é de "Vinhos, Azeites e Presuntos" & gulodices imensas, coisas que nos encantam a vista e papilam a nossa boca em antevisão pela degustação.

Fica a meio caminho da rua do Alecrim em Lisboa, entre aquela senhora nua que se esqueceu em casa do manto diáfano da fantasia e o Duque da Terceira que, indiferente, nos volta as costas e olha o rio e quase em frente à última obra arquitectónica em Lisboa do arquitecto Siza Vieira.

Tem uma sala no fundo onde podemos descansar, a entreter um chá simpático, das agruras das compras ou da provação que é subir e descer o Chiado, enquanto discutimos com a simpática Ana virtudes e características de todas as tentações que nos acompanharam desde a porta.

Produtos maioritariamente nacionais que é como deve ser - e quanta coisa apelativa já se faz por aqui!







Use-se e abuse-se.

Rua do Alecrim, nº 49, 1200-014 Lisboa
Telefone: 918865169
www.facebook.com/GrapesAndSpices

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Saudades

Quem morre fica pleno de qualidades porque o sentimento de perda que nos atinge faz por realçar as memórias reconfortantes, enviando para o esquecimento tudo o que de menos positivo aconteceu. É por isso que não gosto muito de elogios a posteriori: porque (quando são sentidos e não convenientes) sãp mais o nosso sentimento de culpa a desculpar-se pelas palavras não ditas a tempo do que um retrato equilibrado de quem partiu. Exagero e desmesura que desfocam a figura e fazem soar tudo um bocadinho a falso.

Prefiro assim falar da influência que me causou quem partiu. Os valores e os gestos, as palavras ou o canto. A presença.



Cesária Évora foi essa presença em muitos momentos, a consubstanciação de uma saudade que não era fado mas também continha o fado, uma dolência que também nos corre na alma.

E foi-me também um exemplo de vida, ao ter a resiliência necessária para resistir à adversidade e a sabedoria imprescindível para resistir às tentações do sucesso.

Dizer que Cesária é Cabo Verde, será, mais do que um lugar comum, uma redundância.

Para a minha memória e vivência, ainda mais Cabo Verde é a cachupa, prato das longas tardes, regadas a amigos e muito, muito boas ondas. Boa onda.

Ligo aqui as duas numa ponte que já é de saudade, de coisas que não retornam, ficando vivas apenas na nossa memória.

Não sei se esta é a mais correcta versão, mas é a de um homem muito correcto a quem a culinária portuguesa deve um dos seus grandes registos - Olleboma, António M. de Oliveira Bello.

"Para se fazer a cachupa começa-se por se preparar milho pilado. Deita-se o milho seco num pilão de madeira (espécie de almofariz grande) batendo-se ledvemente com o pilão do mesmo dando movimento de rotação para não quebrar os grão mas separar a pele e o gérmen ou coração. Depois de pilado deita-se o milho em água simples para lhes separar a pele e os gérmens. A seguir coze-se o milho em água com um pouco de sal juntamente com algum feijão branco grande produzido naquele arquipélago, que se chama fava, bonjona ou favona.

Quando o milho e o feijão estiverem quase cozidos, deita-se para cozer juntamente carne de porco salgada que se pôs de molho por 10 a 12 horas. Estando tudo cozido, faz-se um refogado com cebola, manteiga de vaca ou banha de porco e começando a cebola a alourar deita-se dentro a carne de porco já cozida, toucinho (um bom bocado), chouriço e às vezes galinha assada ou cozida. Estando bem refogado acrescenta-se o milho e o feijão cozidos, mistura-se tudo ao lume, rectificam-se os temperos de sal e pimenta e serve-se bem quente.
"

Culinária Portuguesa, Ed. Autor, Lisboa, s/data (1935?)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pharmacopeia alimentar

Andam ministros e vereadores atarefados a inventar motivos para neo-museus e tem Lisboa um magnífico, valioso e desconhecido exemplar em plena zona histórica que mereceria muito mais visitação e apreço.

É, como todos os que se prezam de o ser, um local de descobertas e bons encontros. Tem belíssimas e espantosamente valiosas peças de arte com estreita ligação com o tema e que ainda ninguém conhece. Mas essas ficam para outras crónicas.

Para esta ficam os exemplos que aqui mostro.

Os enlatados e em-vacuados alimentos que serviam os cosmonautas soviéticos - originais, obtidos após prolongadas diplomacias,




o ruibarbo que antes de ser estrela das cozinhas inglesas se servia em granulado para, dependendo da dose, ser laxante ou antidiarreico,


o óleo de fígado de bacalhau do qual, sem grande esforço de memória, ainda consigo evocar o absolutamente execrável (pelo menos para os meus cinco anos) sabor,


e esta delícia que hoje nos faz sorrir pela exclusividade - Água "das pedras" de Salus-Vidago (ou Vidago-Salus, como passou a ser conhecida posteriormente) vendida em farmácias - e nos faria integrar manifestações de repúdio no presente se se continuasse a apresentar como "poderosamente radio-activa".


Tudo isto e muito mais, no Museu da Farmácia, na sede nacional da ANF (Associação Nacional das Farmácias), ali para as bandas do Miradouro de Santa Catarina em Lisboa (atenção aos "farmacêuticos" que pululam no exterior: os produtos que vendem não integram nenhum convénio nem têm comparticipação do Estado - use at your own risk...).

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Asterix em Lindavelius

Sinto-me colectivamente ofendido - deverei antes dizer, solidariamente ofendido - com alguma da publicidade que passa em horário nobre nos canais televisivos de sinal aberto nesta mui nobre época consumistico-natalícia.

O desemprego aumenta,  pensões, salários e subsídios são garbosamente desbastados, o clima geral é de preocupação e pespegam-nos em prime time com um avô, portador de um evidente problema de sincronia entre o movimento dos seus lábios e as palavras que nos envia, em destemperada aquisição de bolas de futebol, computadores, jóias e mais sei lá para a sua extensa e desadequada ao euro família, como se não houvesse 2012!

Blhec. Em verdade vos digo, dentro do espírito transparente e fraternal da época, vão mas é pregar o exagero para uma freguesia mais próxima do Pólo Norte, dessas com bacalhau e petróleo e com um grandessísimo be-lhe-que por benção.

Em coerência com a frugalidade dos tempos, decidi-me assim por uma proposta mais poupadinha na conta que não no prazer proporcionado.

Na estrada que liga Algés e Linda-a-Velha, encafuado no meio de uma das inúmeras propostas urbanísticas que encheu os bolsos a quase todos os envolvidos e as ruas a quase todas as cidades e vilas deste país nos últimos vinte anos - e que, por ser igual a todas as outras, me torna difícil identificar, fica o Farol da Torre.

Não tem aspirações a estrela, não tem decoração que entusiasme (ou mesmo aconchegue); tem um serviço simpático, uns donos disponíveis para conversar sobre a comida que fazem e, principalmente, vontade de fazer saboroso, vontade de agradar a quem os procura.

Uns rissois de leitão catitas, alguma cozinha tradicional e pratos de caça sempre que a ocasião o proporciona.


Estas iscas de javali caíram muito bem e o sarapatéu (que de sarapatel nada tinha, era antes carne longamente marinada em vinha de alhos e vinho verde tinto) do mesmo, ainda que errado no nome, acertava como proposta.



É pouco? Não é nada. Na sua despretensão, é muito bem vindo nestes dias de borrasca, porto de abrigo para os pequenos prazeres do dia-a-dia.

Farol da Torre
Rua Marcelino Mesquita, 13, Loja 5, 2795-134 Linda-a-Velha
Tel.: 213011338

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Out of Africa

É oh tão retemperador sair do circuito habitual de compras nas grandes superfícies e voltar aos locais centenários da cidade, reencontrar a tradição, os produtos nacionais, os velhos hábitos, sentir o regresso às origens, ao Portugal profundo e rural...

Uôuôuôuô, parem as rotativas, recolham o kleenex para as lágrimas, aguentem um bocadinho o filme!

Tradição? Produtos tradicionais? Nacionais?


Temos pena... Afinal, trinta e escambau anos depois do fim do império, parece que o passado nos apanha e a profecia do Pessoa começa a materializar-se: não era a sermos redutora e provincianamente fechados ao mundo que iríamos ser universais, pois não?


Ah, o prazer de descobrir e miscigenar...


(Já agora: quem diabo inventou esta nova grafia para os quiabos? É que nem o acordo ortográfico se lembrou desta...)