No Portugal do antigamente, de pobres costumes e défice controlado, a temporada de saldos era um evento dois-em-um onde os mais remediados dos "remediados" (palavra posta em desuso pela CEE e em vias de recuperação pela UE) tinham - finalmente - oportunidade de comprar roupa nova e onde os monos de temporadas passadas encaixotados há muito nos fundos da loja, obtinham segunda oportunidade para brilhar.
Ao contrário do que cantava o Zé Mário, apesar de terem mudado os tempos, as vontades permaneceram imutáveis. Por lei, nos saldos - de roupa... - só são admitidas peças do ano, à venda anteriormente na loja. Mas, graças a Deus, a criatividade anda sempre um passo à frente daquela e a maior parte das campanhas que por aí andam anunciadas como panaceias para o consumidor-gourmet não passam de disfarçados modos de continuar a assegurar lucros no negócio.
É a vida, pá.
Sendo a situação económica actual o que é, com a redução dos rendimentos dos consumidores, o aumento do IVA, o desapoio bancário, é segredo de polichinelo o periclitante estado financeiro da maior parte dos restaurantes. Eventos como o "Restaurant Week", com o anunciado preço de saldo (19€) para uma refeição completa, parecem ser, pelo menos teoricamente, um modo de alargar o número de consumidores, servindo como introdução do restaurante a novos entusiastas que, mesmo não frequentemente, seriam cativados para novas visitas. Instrumento valioso pois, a ser tratado com atenção e carinho.
Apesar de me parecer óbvia esta posição, o facto de ainda ter vivido o tempo dos mono-saldos, criou-me uma desconfiança de base de todas estas desprendidas ofertas: refeições em restaurantes de luxo pelo valor anunciado são como a manta do pobre - em algum lado há-de faltar alguma coisa.
Apesar disso e entusiasmado por voz amiga, decidi-me a - desta vez eu - experimentar este ano um dois-em-um: conhecer o restaurante, nas palavras da maioria dos críticos, mais injustiçado dos não-premiados pelo guia Michelin e verificar a benignidade da iniciativa.
Reserva feita para o almoço, bom atendimento, à altura dos pergaminhos, uma carta especial - e especialmente colorida. Menu fixo na entrada e na sobremesa, única opção entre o prato do lombinho de bacalhau e o de peito de "canette".
Pratos bem confeccionados mas não especialmente interessantes, muito menos entusiasmantes. Tantas refeições a suplantar esta, mais baratas, mais caras. Onde a "alta" cozinha, a "elevadíssima" qualidade? No menu de degustação, na carta fora da promoção? Qual então a mais valia para o cliente - a vista?
Como introdução soube a pouco, soube a insuficientemente pouco para desejar voltar.
No final, a resposta à dúvida inicial. Duas pessoas, dois menus (19 + 1 €), um copo de vinho, um sumo, uma garrafa de água, um café: 60 euros.
I rest my case.
Ao contrário do que cantava o Zé Mário, apesar de terem mudado os tempos, as vontades permaneceram imutáveis. Por lei, nos saldos - de roupa... - só são admitidas peças do ano, à venda anteriormente na loja. Mas, graças a Deus, a criatividade anda sempre um passo à frente daquela e a maior parte das campanhas que por aí andam anunciadas como panaceias para o consumidor-gourmet não passam de disfarçados modos de continuar a assegurar lucros no negócio.
É a vida, pá.
Sendo a situação económica actual o que é, com a redução dos rendimentos dos consumidores, o aumento do IVA, o desapoio bancário, é segredo de polichinelo o periclitante estado financeiro da maior parte dos restaurantes. Eventos como o "Restaurant Week", com o anunciado preço de saldo (19€) para uma refeição completa, parecem ser, pelo menos teoricamente, um modo de alargar o número de consumidores, servindo como introdução do restaurante a novos entusiastas que, mesmo não frequentemente, seriam cativados para novas visitas. Instrumento valioso pois, a ser tratado com atenção e carinho.
Apesar de me parecer óbvia esta posição, o facto de ainda ter vivido o tempo dos mono-saldos, criou-me uma desconfiança de base de todas estas desprendidas ofertas: refeições em restaurantes de luxo pelo valor anunciado são como a manta do pobre - em algum lado há-de faltar alguma coisa.
Apesar disso e entusiasmado por voz amiga, decidi-me a - desta vez eu - experimentar este ano um dois-em-um: conhecer o restaurante, nas palavras da maioria dos críticos, mais injustiçado dos não-premiados pelo guia Michelin e verificar a benignidade da iniciativa.
Pratos bem confeccionados mas não especialmente interessantes, muito menos entusiasmantes. Tantas refeições a suplantar esta, mais baratas, mais caras. Onde a "alta" cozinha, a "elevadíssima" qualidade? No menu de degustação, na carta fora da promoção? Qual então a mais valia para o cliente - a vista?
Como introdução soube a pouco, soube a insuficientemente pouco para desejar voltar.
No final, a resposta à dúvida inicial. Duas pessoas, dois menus (19 + 1 €), um copo de vinho, um sumo, uma garrafa de água, um café: 60 euros.
I rest my case.