O que nos leva a eleger um restaurante? O nosso estado de espírito. O nosso sentir no momento. O nosso posicionamento na vida. Estamos alegres? Especialmente apaixonados? Completamente deprimidos? Desejamos com urgência fechar os olhos e deixar que o prazer da primeira garfada oblitere a enormidade do peso que carregamos? Queremos uma mudança da paisagem que nos cerca, ser seduzidos pela diferença? Estamos fartos, cansados, desprovidos de ânimo e apenas esperamos que nos quebrem o apetite com a primeira coisa reconfortante que estiver à mão? Exigimos que o mundo não mude - ou apenas que o nosso conforto mude para melhor?
São tantas as variáveis que, houvera um génio que as soubesse concentrar todas numa única equação, estaria milionário pela consultoria prestada a todos os pretéritos, presentes e futuros candidatos a super-estrelas no mundo da restauração.
As nossas disponibilidades variam mas não as nossas pretensões - independentemente de modos e manias, queremos sempre o mesmo: um restaurante que seja de confiança. Onde espaço, serviço e comida estejam à altura do que nos levou à sua eleição.
Inaugurado em 1988 (oh tanto rio passou à sua vizinhança!), num local privilegiado (em Belém, junto à marina e no caminho para a manuelina torre que muitos insistir em ver como o ex-libris da cidade), desde sempre o Vela Latina se alcandorou ao estatuto de - à falta de melhor expressão em português - good value for money. Em visita da passada semana, pude comprovar que assim se mantém.
Numa envolvente de sonho - o rio, oh o rio!, a placidez da marina, os sinais da gesta lusa a garantirem a necessária auto-estima nacional -,
um interior em que o conforto é físico e visual, onde conservadoramente nos sentimos bem (sem surpresas; sem riscos; sem provocações). Largas janelas, decoração em consonância com a náutica envolvência.
No capítulo fundamental - a certeza de que não se sai desiludido.
Como entrada, degustou-se um carpaccio de novilho com queijo da ilha de S. Jorge, casamento em versão nacional que não empalideceu perante a canónica opção pelo parmesão / Parmigiano-Reggiano.
Servido ligeiramente mais frio que o desejável, foi revelando as suas qualidades à medida que a temperatura subia, demonstrando a qualidade da carne e a harmonia com o S. Jorge pouco curado utilizados.
Com os filetes de pescada, alcandorou-se a satisfação a posição refastelada. Belos espécimes, belo tratamento! Respeito pelas necessidades da espécie, com tempo de fritura adequado a proporcionar um interior firme a deslindar-se à primeira dentada, em contraste com o crocante exterior. Belo exemplo do que deve ser um filete, a fazer escola e deixar memória.
Já o risotto de salsa e berbigão que os acompanhava, apareceu com os grãos mais desligados que o ortodoxamente estabelecido e - à maneira de um noivo bem apessoado que se retrai perante uma nubente radiosa e radiante - revelou-se tímido: bom sabor a mar, mas com um ligeiro défice de umami.
Com o segundo prato atingiu-se o ápice da refeição: um Bife do lombo Black Angus à moda do Chefe – Molho creme com boletos, mostarda absolutamente superlativo na origem, na preparação e no molho. Um céu, um nirvana, uma turvação de sentidos que termina num espreguiçar interior e um sorriso de apaziguamento a cada garfada, os olhos bem fechados e um suspiro que tenta ser discreto para não assustar os demais comensais.
Para onde ir depois deste êxtase degustativo? Para uma Tarte de maçã quente com gelado de baunilha
e um Pastel de nata da casa.
Sem surpresas nem desilusões, bons complementos à refeição, o recheio do pastel a provar bem, a massa ligeiramente diferente do farfalhudo folhado tradicional, sem comprometer.
E que melhor forma de terminar uma profícua, prazenteira, relaxada refeição que a acompanhar a bica e madalena amuse gueule, uma lágrima de Moscatel Private Collection de Domingos Soares Franco?
Recomendadíssimo!
Restaurante Vela Latina
Doca do Bom Sucesso, Belém
1400-038 Lisboa
Tels.: +351 213 017 118 ; +351 910 174 024
Fax: +351 213 019 311
GPS: N38º 41.6′ W9º 12.8
Encerra aos Domingos e Feriados.
São tantas as variáveis que, houvera um génio que as soubesse concentrar todas numa única equação, estaria milionário pela consultoria prestada a todos os pretéritos, presentes e futuros candidatos a super-estrelas no mundo da restauração.
As nossas disponibilidades variam mas não as nossas pretensões - independentemente de modos e manias, queremos sempre o mesmo: um restaurante que seja de confiança. Onde espaço, serviço e comida estejam à altura do que nos levou à sua eleição.
Inaugurado em 1988 (oh tanto rio passou à sua vizinhança!), num local privilegiado (em Belém, junto à marina e no caminho para a manuelina torre que muitos insistir em ver como o ex-libris da cidade), desde sempre o Vela Latina se alcandorou ao estatuto de - à falta de melhor expressão em português - good value for money. Em visita da passada semana, pude comprovar que assim se mantém.
Numa envolvente de sonho - o rio, oh o rio!, a placidez da marina, os sinais da gesta lusa a garantirem a necessária auto-estima nacional -,
um interior em que o conforto é físico e visual, onde conservadoramente nos sentimos bem (sem surpresas; sem riscos; sem provocações). Largas janelas, decoração em consonância com a náutica envolvência.
No capítulo fundamental - a certeza de que não se sai desiludido.
Como entrada, degustou-se um carpaccio de novilho com queijo da ilha de S. Jorge, casamento em versão nacional que não empalideceu perante a canónica opção pelo parmesão / Parmigiano-Reggiano.
Servido ligeiramente mais frio que o desejável, foi revelando as suas qualidades à medida que a temperatura subia, demonstrando a qualidade da carne e a harmonia com o S. Jorge pouco curado utilizados.
Com os filetes de pescada, alcandorou-se a satisfação a posição refastelada. Belos espécimes, belo tratamento! Respeito pelas necessidades da espécie, com tempo de fritura adequado a proporcionar um interior firme a deslindar-se à primeira dentada, em contraste com o crocante exterior. Belo exemplo do que deve ser um filete, a fazer escola e deixar memória.
Já o risotto de salsa e berbigão que os acompanhava, apareceu com os grãos mais desligados que o ortodoxamente estabelecido e - à maneira de um noivo bem apessoado que se retrai perante uma nubente radiosa e radiante - revelou-se tímido: bom sabor a mar, mas com um ligeiro défice de umami.
Com o segundo prato atingiu-se o ápice da refeição: um Bife do lombo Black Angus à moda do Chefe – Molho creme com boletos, mostarda absolutamente superlativo na origem, na preparação e no molho. Um céu, um nirvana, uma turvação de sentidos que termina num espreguiçar interior e um sorriso de apaziguamento a cada garfada, os olhos bem fechados e um suspiro que tenta ser discreto para não assustar os demais comensais.
Para onde ir depois deste êxtase degustativo? Para uma Tarte de maçã quente com gelado de baunilha
e um Pastel de nata da casa.
Sem surpresas nem desilusões, bons complementos à refeição, o recheio do pastel a provar bem, a massa ligeiramente diferente do farfalhudo folhado tradicional, sem comprometer.
E que melhor forma de terminar uma profícua, prazenteira, relaxada refeição que a acompanhar a bica e madalena amuse gueule, uma lágrima de Moscatel Private Collection de Domingos Soares Franco?
Recomendadíssimo!
Restaurante Vela Latina
Doca do Bom Sucesso, Belém
1400-038 Lisboa
Tels.: +351 213 017 118 ; +351 910 174 024
Fax: +351 213 019 311
GPS: N38º 41.6′ W9º 12.8
Encerra aos Domingos e Feriados.
Sem comentários:
Enviar um comentário