Em Portugal - sabe-se - quando não se quer resolver nada, nomeia-se uma Comissão.
Quando a vergonha pública é alguma, os gritos da plebe sobem a níveis consistentes com a indignação ou é preciso garantir boa imagem, próximas que estão algumas eleições, investe-se no patamar superior da Comissão - a CLASSIFICAÇÃO.
A CLASSIFICAÇÃO é um regalo para todos: toma tons oficiais com a publicação em Diário da República, permite candidaturas a concursos europeus ou a páginas de guias, aquece discursos e agita bandeiras.
Tem o ligeiro e sempre desvalorizado problema de exigir muito dinheiro para a sua manutenção - dirão os mais avisados que o seu propósito seria exactamente esse - disponibilizar verbas antes negadas - dirão os mais cínicos que esse é o seu não propósito - ocultar que as verbas antes negadas o continuarão a ser.
Em 2000, algumas almas bondosas e verdadeiramente empenhadas conseguiram que o PODER (outra entidade há muito possuidora de uma CLASSIFICAÇÃO) dedicasse alguns minutos (alguns minutos só, já que a montanha pariu um rato) à magna questão da gastronomia tradicional portuguesa. Fizeram-no com um empenho tão convincente que a dita passou por direito próprio a A GASTRONOMIA TRADICIONAL PORTUGUESA.
Foram dias de festa.
De confiança no futuro.
Lia-se a Resolução do Conselho de Ministros 96/2000 de 26 de Julho e exultava-se com os objectivos: intensificar as medidas de preservação, valorização e divulgação da Gastronomia Nacional, como bem integrante do Património Cultural Português. Assim. Em itálico e negrito e tão oficializado que fazia rebentar o dilatado ventre de nacionalista orgulho.
Aquela GASTRONOMIA NACIONAL, tão perfeitamente definida, tão o receituário tradicional português, assente, designadamente, em matérias-primas de fauna e flora utilizadas ao nível nacional, regional ou local, bem como em produtos agro-alimentares produzidos em Portugal e que, pelas suas características próprias, revele interesse do ponto de vista histórico, etnográfico, social ou técnico, evidenciando valores de memória, antiguidade, singularidade ou exemplaridade!
E no ano seguinte, ainda se olhava com deleite para a criança, via a luz a Resolução do Conselho de Ministros nº 169/2001 de 19 de Dezembro que criava a Comissão Nacional de Gastronomia!
Mau.
Mau.
Mau.
Uma COMISSÃO.
Ainda hoje se esperam pelas conclusões da mesma.
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