Para um lisboeta é um lugar comum ouvir um lisboeta dizer que Lisboa é uma terra de tascas. FOI uma terra de tascas. De tabernas, de quem se dizia serem porta sim porta não com as porta não porta sim igrejas.
É curioso usar-se a expressão "lugar comum", quando uma tasca - a tradicional, aquela com um vicente à porta, um barril ao fundo e um balcão de mármore a intermediar... não, menos, a tradicional com um ar chunga, cheiro a fritos e petisqueira que, em retrospectiva nos faz salivar e mentalmente lamber os dedos - é, hoje em dia e legislação sanitária europeizada em mente, um lugar incomum.
Zelosos e cumpridores law enforcers que se seguiram a cumpridores e zelosos legisladores fizeram por higienizar todo o tecido restaurativo da cidade: azulejaram, inoxidaram, fluorescentaram, desengorduraram, normalizaram gosto e sabor. Mataram - ou pelo menos enterraram sobre cosméticas carradas de HACCPs - esse passado que a presente ausência nos faz teimar em glorificar.
É tão português suspirar por algo que passou a bestial depois de morto.
Bom. O mundo pula e avança com toda a força do que tem de ser. E se para nós tugas, o respeitinho ainda é - pelo menos às claras - muito bonitinho, para a panóplia de imigrantes que nos enchem as ruas de colorido e os bairros populares de uma vivacidade sem IVA, o lespeitinho é coisa de gweilo.
Assiste-se assim, nessa Lisboa renovada de actividade, ao renascimento da tasca-instituição.
Uma profusão quase porta sim porta não de restaurantes familiares, com cozinheiros/as de mão cheia que nos transportam às ruas de muitas das cozinhas regionais chinesas, bastando para tal deixar cair o duplo véu de desconfiança de restaurador e clientes.
Apesar dos zelos que, mais tarde ou mais cedo, hão-de cair, em mediaticamente calculadas operações, sobre estas micro-micro-micro-empresas, não tenho dúvidas de quem irá sair vencedor: o palato dos curiosos e a tenacidade dos mais teimosos.
Aqui ficam as mais recentes descobertas, experimentadas numa destas noites, algures na cidade: uma lição de gostos, texturas, equilíbrios de cores, concentrados em poucos gestos, meios económicos e simplicidade de pratos. Uma cozinha milenar ao virar das esquinas. Vale a pena conhecer, já que a nossa teima em sobreviver envergonhada, perdida em modernices que desconhecem a modernidade ou paralisada em imitações de mau tom, pouco sabor e menor amor.
É curioso usar-se a expressão "lugar comum", quando uma tasca - a tradicional, aquela com um vicente à porta, um barril ao fundo e um balcão de mármore a intermediar... não, menos, a tradicional com um ar chunga, cheiro a fritos e petisqueira que, em retrospectiva nos faz salivar e mentalmente lamber os dedos - é, hoje em dia e legislação sanitária europeizada em mente, um lugar incomum.
Zelosos e cumpridores law enforcers que se seguiram a cumpridores e zelosos legisladores fizeram por higienizar todo o tecido restaurativo da cidade: azulejaram, inoxidaram, fluorescentaram, desengorduraram, normalizaram gosto e sabor. Mataram - ou pelo menos enterraram sobre cosméticas carradas de HACCPs - esse passado que a presente ausência nos faz teimar em glorificar.
É tão português suspirar por algo que passou a bestial depois de morto.
Bom. O mundo pula e avança com toda a força do que tem de ser. E se para nós tugas, o respeitinho ainda é - pelo menos às claras - muito bonitinho, para a panóplia de imigrantes que nos enchem as ruas de colorido e os bairros populares de uma vivacidade sem IVA, o lespeitinho é coisa de gweilo.
Assiste-se assim, nessa Lisboa renovada de actividade, ao renascimento da tasca-instituição.
(Fotografia de base: Autoria - Joshua Benoliel; Arquivo Fotográfico CML) |
Apesar dos zelos que, mais tarde ou mais cedo, hão-de cair, em mediaticamente calculadas operações, sobre estas micro-micro-micro-empresas, não tenho dúvidas de quem irá sair vencedor: o palato dos curiosos e a tenacidade dos mais teimosos.
Aqui ficam as mais recentes descobertas, experimentadas numa destas noites, algures na cidade: uma lição de gostos, texturas, equilíbrios de cores, concentrados em poucos gestos, meios económicos e simplicidade de pratos. Uma cozinha milenar ao virar das esquinas. Vale a pena conhecer, já que a nossa teima em sobreviver envergonhada, perdida em modernices que desconhecem a modernidade ou paralisada em imitações de mau tom, pouco sabor e menor amor.
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