Continuando a imaginária subida pela Aquitânia, entra-se do departamento das Landes, departamento criado na sequência da Revolução Francesa e que alberga parte das antigas províncias da Guyenne e Gascogne. Criação presumivelmente política, digo eu, dada a forte identidade regional da Gasconha (D'Artagnan, lembram-se?)
A Gascogne nos seus diferentes limites ao longo dos séculos (fonte: Wikipedia) |
consubstanciada na língua que ainda hoje é falada e no espírito que não se perdeu - em 2006, o concelho geral das Landes exprimiu a sua vontade em alterar o nome do departamento para "Landes de Gascogne".
A defesa e promoção da gastronomia são efectuadas por uma associação do departamento denominada Qualité Landes - vale a pena visitar o seu site.
As Landes contam com o maior número de produtos agrícolas reconhecidos com um selo de qualidade - 7:
Le canard (pato) fermier des Landes (Label rouge)
(fonte: excelfoiegras.com - excelentes receitas de pato!) |
Les volailles (aves) des Landes (Label rouge e I.G.P.), das quais se destaca o poulet fermier (frango de campo) de Saint-Sever (Label rouge)
Le bœuf de Chalosse (Label rouge e I.G.P.)
L' Asperge (espargo) des Sables des Landes (I.G.P.)
o kiwi de l'Adour (Label rouge e I.G.P.)
os vinhos de Tursan e os vins de pays des Landes (AOVDQS)
o Armagnac
e o Floc de Gascogne (AOC)
(fonte: chazallet.com - ver receitas de cocktails aqui) |
A cozinha das Landes constroi-se principalmente a partir destes produtos. O pato é rei, sendo criado em incontáveis quintas tanto pela sua carne como pelo fígado o qual origina feiras renomadas, as mais importantes das quais se realizam nas cidades de Amou, Dax, Peyrehorade e Mont-de-Marsan (capital do departamento).
O pato é assim como o porco para nós, tudo se aproveitando e de tudo - como é usual no país - se fazendo produtos de referência: o foie gras (cuit, mi-cuit ou fresco), o magret (fresco, fumado ou seco), as coxas e as asas confitadas, as moelas confitadas, as rillettes e os graisserons (ou mais usualmente titiouns ou titions, palavras gascãs para graisserons).
(fonte: www.foiegrasceres.com ) |
composta de espargos, milho, pinhões, presunto de Bayonne, fatias de magret fumado ou seco, coxas confitadas e foie gras.
Na pastelaria, as Landes são o berço do pastis landais
e da Tourtière (simples, com maçãs ou ameixas).
(fonte: lacuillerenbois.canalblog.com) |
Nas Landes situam-se grandes restaurantes, como o Prés d'Eugénie de Michel Guérard, um dos pais da nouvelle cuisine e criador da cuisine minceur, em Eugénie-les-Bains (3 estrelas Michelin)
(fonte: azzed le.blog - ler post aqui) |
Foie gras de canard chaux aux raisins (prato servido no restaurante e receita a ler aqui) |
Num artigo publicado em Setembro deste ano, Gilles Pudlowski descreve o menú (de 58€! compare-se com os preços de alguns restaurantes de Lisboa...): sopa de melão de Laurède refescada com granité de jurançon, foie gras quente com passas, filetes de pato lacado com mel de especiarias com mesclun de legumes e presunto, a tarte « sans fond » aux gariguettes com coulis de frutas vermelhas e sorvete de pistache. E acrescenta: " Cada estação traz, nos Coussau, o seu lote de prazeres e guloseimas. As ostras de Gillardeau, em geleia de água do mar, agrião e caviar da Aquitaine, passam o seu perfume de iodo. Os escalopes de foie gras na panela, suculentes e crocantes, flanqueados por pequenos girolles (n.t. - espécie de cogumelos) e trufas, com a sua redução douce de floc de Gascogne, o famoso salmão de l’Adour com acompanhamento de alcachofras e presunto, sem omitir o pombo e a lebre à la royale na estação da caça (está a chegar e será curta!): eis o que vos espera numa sala de refeições clara, renovada, mesmo que pareça não ter mudado há lustros.
Já Gironne, com capital em Bordéus
é, antes de mais, o centro de uma das mais afamadas regiões vinícolas mundiais, o Bordeaux.
Criado, como o seu vizinho próximo, na sequência da Revolução Francesa, a partir de parte das províncias da Guyenne e Gascogne, "vive" em torno dos rios Garonne e Dordogne que o atravessam e desaguam no estuário comum do Gironde.
Soulac-sur-Mer, no extremo da península é uma pequena vila veraneante, pejada de casas de madeira do princípio do século (XX), reconstruídas após a II Guerra.
O Bassin d'Arcachon, mar interior situado junto à costa, serve de berço às afamadas ostras homónimas que, durante séculos foram as "Portugaises", dizimadas por um virus nos anos 70 e substituídas pelas "Japonaises"
O Bassin d'Arcachon, mar interior situado junto à costa, serve de berço às afamadas ostras homónimas que, durante séculos foram as "Portugaises", dizimadas por um virus nos anos 70 e substituídas pelas "Japonaises"
(fonte: 750grammes.com - receita aqui) |
Bassin que merece uma visita mais prolongada, um séjour de alguns dias para recuperar baterias, visitar a duna do Pyla, a mais alta da Europa
as cabanes tchanquées, cabanas de palafitas que começaram a ser construídas como apoio de banho, sendo mais tarde aproveitadas para apoio à cultura de ostras,
ir à praia, ver os barcos, pescar e, principalmente, entreter-se a distinguir as subtis diferenças de sabor entre as ostras cultivadas no banc d'Arguin (sabor açucarado, leitoso e marítimo), na l'île aux Oiseaux (carácter poderoso, com aromas vegetais e minerais), em Cap-Ferret (aromas delicados de legumes frescos e cítricos) e no Grand Banc (sabores de frutos brancos e de avelãs torradas).
Arcachon (fonte: Wikimedia commons) |
Voltando ao vinho: 120000 hectares, 57 appellations, 8 000 châteaux, 13 000 viticultores, fazem desta região a maior produtora de vinhos finos do mundo. Deonominações como Médoc, Sauternes, Saint-Émilion; marcas como Château Lafite-Rothschild, Château Margaux, Château Latour, Château Haut-Brion, Château Mouton-Rothschild são estrelas deste imenso firmamento.
Quanto a estrelas Michelin, nada no escalão de topo, mas três 2 estrelas: o Saint James em Bordeaux-Bouliac,
(fonte: site do restaurante) |
dirigido por Michel Portos, (ver aqui a sua receita de Foie gras chaud aux coquillages); o Château Cordeillan Bages em Pauillac,
(fonte: site do restaurante) |
(fonte: site do restaurante) |
(fonte: voyagerluxe.com) |
dirigida por Philippe Etchebest que executa, nas suas palavras, "uma cozinha moderna, respeitando o produto e introduzindo, através de toques impressionistas, notas do exterior, apreendidas no decorrer das suas viagens. A arquitectura dos pratos é um parâmetro importante, mas o que importa em primeiro lugar é o gosto e a justeza dos acordos entre os ingredientes que comporão os pratos a degustar".
Disfrutem!
RECEITAS:
Magret de Canard fermier des Landes farci aux champignons et jambon de Bayonne
(do site qualitelandes.com)
Ingredientes:
- 2 magrets de pato
- 200 gr de champignons de paris
- 2 fatias de presunto com 3mm de espessura
- 30 gr de manteiga
- 1 c.sopa salsa picada
- 15 cl de caldo de galinha
Recheio:
Limpe e corte os cogumelos em pequenos pedaços, corte as fatias de presunto em pequenos cubos. Refogue os cogumelos na manteiga. A meio da cozedura acrescente o presunto, frite durante alguns minutos, tempre e junte a salsa.
Carne:
Abra delicadamente os magrets no centro do lado da carne até atingir a gordura. Guarneça o interior com o recheio preparado anteriormente. Feche, carregando na carne ligeiramente. Ate com fio. Coloque-os num pirez e leve-os ao forno durante 15 minutos. Reduza o caldo de galinha numa caçarola com uma noz de manteiga.
Suprêmes de Poulet fermier des Landes aux tomates séchées et basilic
(do site qualitelandes.com)
Ingredientes:
- 2 peitos de frango de campo
- 8 tomates confitados marinados em azeite
- 1/2 ramo de majericão
- 2 c. sopa de azeite
- 5 cl de vinho branco seco
- Sal, pimenta
Seque o tamte numa folha de papel absorvente. Separe as folhas do manjerição e depois corte-as grosseiramente.
Fatie os peitos no sentido longitudinal sem os separar completamente. Preencha com o tomate e manjericão. Tempere.
Aqueça o azeite em lume forte, coloque os peitos e dore-os delicadamente 3 a 4 minutos de cada lado sem deixar acastanhar.
Acrescente o vinho para deglacear. Deixe ferver por 1 minuto, baixe o lume e tape. Deixe cozinhar durante 20 minutos, virando as peças uma ou duas vezes e molhando-as regularmente com o molho.
Para servir, corte os peitos em 8 pedaços e mantenha cada parcela no lugar com a ajuda de um palito. Sirva imediatamente.
Sauté d’onglet de bœuf de Chalosse aux petits légumes et au gingembre
(do site qualitelandes.com)
Ingredientes :
- 800 gr d’lombinho de vaca de Chalosse
- 2 cenouras
- 2 courgettes
- 200 gr de ervilhas francesas
- 1 c. sopa de gengibre fresco picado
- 4 c. sopa molho de soja
- 3 c. sopa azeite
Descasque as cenouras, corte-as em juliana, bem como as courgettes. Mergulhe as ervilhas 2 minutos em água a ferver salgada e refresque-as em água com gelo. Coza em azeite cenouras e courgettes 6 a 8 minutos num tacho deixando-as crocantes. Acrescente as ervilhas, gengibre, sal e pimenta. Corte a carne em fatias muito finas. Retire os legumes do tacho. Acrescente um pouco de azeite, frite os pedaços de carne 2 minutos. Deglace com o molho de soja, tempere com pimenta e sirva logo com os legumes.
Tartare de kiwi de l’Adour et crevettes à la citronnelle
(do site qualitelandes.com)
Ingredientes :
3 kiwis de l’Adour
24 camarões cozidos
1 c. sopa de erva príncipe
80gr de rebentos de soja
2 ramos de coentros
2 c. sopa molho de soja
3 c. sopa azeite
Descasque os kiwis e corte-os em pequenos cubos. Retire a casca aos camarões, corte-os em pedaços. Pique grosseiramente os rebentos de soja. Misture num recipiente o molho de soja com o azeite a erva principe e os coentros picados. Acrescente os kiwis, camarão e rebentos de soja. Misture e conserve no frigorífico antes de servir sobre tostas.