sábado, 27 de outubro de 2012

Entrar pelo Cano

Comecei a saber do Cano muito antes de o visitar.

Ele era a terra dos pais de uma grande amiga.

Ele era o Herbert Viana a dizer que lá tinha entrado depois de, gaiatamente, ter entrado num navio.

Finalmente, foi uma neurovoz a encomiasticar a vila como a base da melhor salsicharia do país.

Num daqueles dias estivais que agora nos parecem tão afastados mas que só foram há bocado, aproveitando o caminho para o Sul, fiz o curto desvio e lá entrei pelo Cano, à procura da D. Octávia e do produto das suas mãos.

Oh maravilha.




A xara que se derrete na boca e nos faz abençoar o intelectual reco pela excelência da sua cabeça; as linguiças e chouriços, tostados pelo álcool numa barrenta canoa, salgadas provocações de mastigar lento e que nos enchem daquele torpor feliz de quem prova um pedacinho de paraíso; a barriga afirmativa que atira para lá da fronteira o que lá da fronteira tem vindo a cavalo de subserviências envergonhadas pela pretensa falta de equivalentes nacionais.



Ajoujado pelo peso resultado da gula desenfreada, da salivante boca, do reflexo no balcão dos meus brilhantes olhos a antever pantagruélicos e mais pantagruélicos festins nos dias vizinhos, saí cambaleante para a adormecida rua do vespertino Sol alentejano e logo me assaltou a inquietação que se transformou em dúvida: "Então por aqui também não haverá queijo que se coma?"

(ah, queijo que se coma... como se houvesse queijo para não se comer... o que há é coisas para não comer que deveriam ser proibidas de se chamar queijo)

Que havia, pois havia, na rua mesmo ao lado, a Queijaria Saianda.


Paletes. Paletes de queijo de ovelha, à nossa espera. Ainda pouco curado, pouco também resistiria nos dias subsequentes, um após outro...


"Então e o pão? Estamos na terra do melhor pão de Portugal e vamos comer queijo e enchidos com sucedâneos menores? Não há por aqui uma padaria aberta?"

Havia. Que estava fechada mas que batêssemos ao lado porque já deveriam estar a fazer os bolos para o dia. E estavam. E abriram e venderam felizes que aqui não há horas públicas para vender e todo o cliente é um amigo e um objecto de desejo.


Ah, o alentejano pão, cujas cópias lisboetas tão próximo ficam do restauro do Ecce Homo de Borja! Quão difícil é conseguir conjugar tão perfeitamente este estaladiço da crosta, o amargo do miolo, o aroma - o aroma! - desta obra de arte!


Ainda bem. O reencontro, por longínquo e demorado, sabe tão melhor.

Faltava ainda o vinho, mas isso são contas de um próximo rosário. Fiquem com os mapajuda e peregrinem, peregrinem até que as rodas vos doam.


Ver mapa maior


Ver Coisas do Cano num mapa maior

Salsicharia Canense
Rua de São José, 7470 Cano
Tel.: 268 549 203

"Somos uma empresa familiar e como o próprio nome indica apenas as pessoas da família trabalham nesta empresa. Nestas condições temos a possibilidade de efectuar a venda ao publico todos os dias da semana incluindo fins de semana. de 2ªf a Domingo das 8:30h ás 20h. Os nossos produtos são fabricados como tradicionalmente as pessoas mais antigas os fabricavam. Apenas utilizamos tripa natural, ou seja, não utilizamos nenhum tipo de tripa plástica. A massa de alho e pimentão somos nós que a fazemos para adicionar à carne que migamos após desmanchar o porco. Não mandamos vir carne ou porcos por desmanchar. Matam o porco no matadouro e nós desmanchamos e separamos a carne na nossa salsicharia. Após a carne estar migada e temperada e em condições de encher, já podemos fabricar o nosso enchido. A fase final passa pelo fumeiro e este é um simples fumeiro que cura a carne com lenha de azinho. Não temos sacadores eléctricos nem nenhum tipo de estufa. Após algum tempo no fumeiro o enchido está pronto a ser comercializado. Os produtos que comercializamos são os típicos da nossa zona e estes são:
  • O chouriço de porco preto
  • A farinheira de porco preto
  • O chouriço mouro de porco preto ( morcela)
  • A cabeça de xara
  • O paio de porco preto
  • O painho de porco preto
  • O lombo enguitado de porco preto
  • A peça do lombo de porco preto
  • A cacholeira de porco preto
  • A paia de toucinho de porco preto
  • A banha simples ou temperada
  • A morcela cozida de porco preto
  • O toucinho de porco preto
Os nossos enchidos são todos fabricados com carne de porco preto e temperados apenas com produtos naturais como alho, sal e pimentão."

Queijaria Saianda
Rua St António 50 , 7470-032 CANO
Tel.: 268 549 230

Padaria “Boavista”
Rua da Boavista nº 19, 7470-027 Cano
Tel.: 268 950 081
Encerra aos Domingos

Sem comentários:

Enviar um comentário