Ali para os lados de Alcântara, na rua que, em curva, desce do Largo das Necessidades para a rua Prior do Crato, fica a Casa de Goa, restaurante integrado no complexo cultural goês que há já alguns anos, a comunidade local decidiu construir numa boa arquitectura, sem concessões a evocações regionalistas ou pseudo-etnográficas.
Tem parque de estacionamento próprio - o que, face aos constrangimentos que a Lisboa actual impõe aos automobilistas é sempre bom - situado a uma centena de metros (entrada pelo portão que se segue ao do edifício, um pouco mais abaixo na rua) o que é sempre bom para obrigar os convivas a um pequeno exercício de queima de calorias.
O espaço interior é simpático, mais uma vez pouco dado a folclores, de madeiras e betão à vista, muito longe das cores e do ambiente de féerie que o nosso imaginário ocidental se habituou a associar ao subcontinente.
O exotismo fica por conta da culinária, um exotismo contido já que a gastronomia tradicional goesa tem tantos pontos de contacto com o que nos habituámos a considerar como luso que somos tentados a considerar estarmos perante uma provocação oriental da nossa cozinha. Não é provocação, antes a recriação local, iniciada pelos primeiros invasores portugueses, das memórias culinárias levadas da metrópole, com os ingredientes e os modos de confeccionar locais. Ressalve-se que, conforme bem relembra Orlando da Costa na introdução ao que será, até agora, a mais importante recolha publicada em português - "Cozinha Indo-Portuguesa" de Maria Fernanda Noronha da Costa e Sousa -, por "gastronomia tradicional goesa" me estou a referir à cozinha de fusão indo-portuguesa iniciada há cerca de 500 anos com a chegada e ocupação portuguesas. Fusão iniciada com os portugueses e continuada nas famílias miscigenadas ou cristianizadas.
Quanto ao que se pode experimentar. Não sendo especialista, não posso julgar o nível de respeito à tradição que os pratos têm. Posso, no entanto, julgar o sabor, o cuidado, variedade - todos muito bons.
Serviço atento, guardanapos de pano, facilidade de estacionamento boa.
Nota final: 4/5. Brindemos pois.
Aqui há dias num outro comentário referi que era meio Madeirense. A minha outra metade é Goesa.
ResponderEliminarPor isso digo-te com verdadeiro conhecimento de causa que a Casa de Goa é francamente boa e que se pedires fazem-te os pratos na versão original - MUITO PICANTE.
Quanto a pratos, por ordem de picante aconselho:
1- Chacuti de Cabrito - pedir bastante picante (quem não estiver habituado pensará que chegou ao inferno).
2 - Amotik de Cação
3 - Vindaloo (Carne de vinho de alhos).
4- Xek-Xek de caranguejo (alguns invejosos dizem que o chilly crab de Singapura é melhor, mas na minha opinião este nem sequer lhe chega aos calcanhares)
4 - Sarapatel (as papas de sarrabulho à Goesa)
5 - Briani de carneiro.
Se conseguirem (é muito raro encontrar) provem um Badji-Pouri e uns Bogés como entrada.
Acompanhem, as refeições com paparis (hóstias de caril) e com os yougurts indianos.
Acabem com essa reliquia que se chama Bebinka.
PS: conselho para os não habituados a picante:
1 - comecem sempre pelos pratos menos picantes
2 -nunca misturem os molhos no arroz, porque este é que serve para cortar o picante;
3 - nunca por nunca bebam água porque esta activa ainda mais o picante.
4 - os pratos 1 e 2 e o Caril de Madras (espécie de almôndegas da outra India) são muito, mas muito violentos na sua versão original.
Por isso é que são tão bons!
Brilhante. Obrigado pelo contributo, António!
ResponderEliminarNão esquecer o suquem de ameijoas.
ResponderEliminarÉ uma obra prima.
A.Gonçalves