sábado, 2 de outubro de 2010

A França por regiões #1 - Alsace

Não é uma lança em África, antes um enclave cultural germanófilo. Até ao século XVII foi cultural e politicamente alemã, depois paciente e por parcelas integrada na França. Entre 1871 e 1945 mudou de nacionalidade quatro vezes. Talvez por isso - por simbolizar quase perfeitamente a fusão dos dois gigantes europeus - a sua capital seja sede de algumas das principais instituições da União Europeia.

Estrasburgo.

Ponts couverts
(fonte: wikimedia commons)
Estarão os inúmeros funcionários políticos mandatoriamente confinados aos limites da cidade ou aproveitarão os tempos livres para se evadir Alsácia dentro?

Procurarão respostas, recolhendo-se por uns dias no mosteiro do Mont Sainte-Odile

(fonte: wikimedia commons)
aproveitando os bosques circundantes para solitárias caminhadas?

Le mur païen
(fonte: wikimedia commons)
Ou buscarão a história feudal por entre as ruínas dos castelos de Ribeauvillé?

Castelo de Saint-Ulrich
(fonte: wikimedia commons)
Pensarão em Veneza, enquanto visitarem a Petit-Venise em Colmar?

(fonte: wikimedia commons)
Pensarão, talvez, quando confrontados com as mais expressivas mãos alguma vez criadas

Retábulo de Isenheim, Matthias Grünewald, Musée de Unterlinden, Colmar
(fonte: wikimedia commons)
nas dissemelhanças renascentistas entre a "naturalista" escola de Veneza e o "expressionismo" (tão gótico ainda) do Norte da Europa.

Façam o que fizerem, vão para onde vão, nunca estarão longe de uma gastronomia fundada nas referências culinárias do sudoeste alemão que vale muito a pena apreciar,

Baeckeoffe
(fonte: Wikimedia commons)

Flammekueche
(fonte: Wikimedia commons)

Fleischnacka
(fonte: aqui)

Choucroute
(fonte: wikimedia commons)




La tourte de la vallée de Munster

(autoria com receita: du miel et du ciel)
Kougelhopf
(fonte: wikimedia commons)
muito bem acompanhadas pelos vinhos da região, construídos  a partir de oito castas principais, uma preta - Pinot Noir-, as restantes - SylvanerPinot BlancRieslingMuscat d’AlsacePinot GrisGewurztraminerKlevener de Heiligenstein.

Três denominações de origem controlada (Appellation d'Origine Contrôlée, AOC):

     - AOC Alsace, usualmente portando o nome de uma das castas da região e, como tal, monovarietais;
     - AOC Alsace Grans Crus, correspondendo a um mais elevado padrão de qualidade, determinado segundo múltiplos critérios
     - AOC Crémant d’Alsace, espumantes produzidos segundo o método champanhês principalmente com Pinot Blanc, mas também com Pinot Gris, Pinot Noir, Riesling ou Chardonnay.

(fonte: Le Republicain Lorrain)
Na boa tradição germânica, existe um rio de cerveja para acompanhar as salsichas da região (a Alsácia é responsável por cerca de 60% da produção nacional): Kronenbourg, Fischer  e Kanterbräu serão as maiores e mais conhecidas marcas mas vale a pena procurar as independentes Météor ou Schutzenberger e mais ainda (com degustação também no local) as cervejas artesanais produzidas em brasseries como as Brasserie d'Uberach, Brasserie de Saint Pierre, Le Scala (em Estrasbourg), Brasserie de la Lanterne, Restaurant Lauth, Au Brasseur.


(fonte: wikimediaa commons)

Para curar maleitas, hidratar depois de tanta caminhada ou, simplesmente, para saborear, a região engarrafa milhões de litros de águas minerais. Das mais clandestinas, só localmente conhecidas, como a Nessel (carbogasosa, facilitante da digestão), às mais poderosas (a maioria alvo de "take-overs" pelas grandes multinacionais), como a Lisbeth (mineralização ligeira, bicarbonatada, equilibrada, gosto neutro, para consumo diário), a Carola (mineralização ligeira, bicarbonatada, sulfúrica, sódica e cálcica, ligeira e equilibrada) ou a Wattwiller (topo de gama, sulfatada, cálcica, fluoratada, sem vestígios de nitratos, perfil bactereológico virgem, certificação ISO9002, controlo efectivo pelo Ministério da Saúde, recomendada em regimes com pouco sal).

(fonte: wikimedia commons)

Dos produtos locais, o que levar para casa?

O kougelhopf, disponível em qualquer padaria, ao longo de todo o ano.

Queijo. No vale de Munster e nos Vosges poder-se-à encontrar um Munster de quinta excelente, a degustar com sementes de cominho.

(fonte: aqui)


O mel de pinho também é incontornável. A maioria dos apicultores situa-se nos Altos Vosges, perto de Bonhomme, de Fréland, ou Bourbach-le-Haut.

Nos doces, destaque igualmente para os Bredele (ou Bredela), biscoitos de Natal vendidos nos mercados de Natal ou em algumas pastelarias.

Bredele: não são uma novidade para os lisboetas...
(fonte: wikipedia)
Mas, destaque dos destaques vai para o foie gras d'Alsace que poderá ser adquirido em  Ribeauvillé, Estrasburgo, Soultz-les-Bains ou Ichtratzheim.

Há ainda o knack, uma salsicha fumada, especialidade de Estrasburgo; as aves (Volailles d'Alsace - ver aqui texto sobre a poule race alsace) ; os espargos d'Alsace; as caracoletas; as couves; as natas frescas (crème fraîche fluide d'Alsace); o pain d'épices.

E a Alsácia tem uma panóplia (estamos em França, não é verdade?) de grandes restauradores, chefs audazes e criativos, associados no Etoiles d'Alsace, que reune os melhores e mais renomados restaurantes, winstubs e artesãos da região.

O seu site é um repositório de alguns dos melhores locais a degustar. E é um regalo para os olhos, com fotos - incopiáveis - mas verdadeiramente saborosas.

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