terça-feira, 13 de setembro de 2011

De Roma Culinaria

Com a devida vénia à autora - Sally Grainger - e à editora Prospect Books (notável e corajosa editora inglesa que se dedica em exclusivo à edição de obras de teor gastronómico!), eis um resumo (tradução com algumas liberdades) dos hábitos gastronómicos diários dos Romanos da época Imperial, retirado de "Cooking Apicius - Roman Recipes for Today":

"Consideremos a classe constituída pelos cavaleiros de posses, homens de negócios e comerciantes, proprietários agrícolas, artífices e, ocasionalmente os mais bem sucedidos membros do proletariado. O dia começa de madrugada e os preparativos de vestuário são rápidos, uma vez que as ablações e a troca de roupa se processam no final do dia, aquando da visita aos Banhos.

O pequeno-almoço é frugal: água e um pedaço de pão ou restos frios da noite anterior. O tempo é valioso quando se quer cumprir as obrigações do dia no fresco da manhã em vez do calor vespertino. O horário romano variava de acordo com as estações mas, de acordo com Carcopino, não ultrapassava as 7 horas no Verão e, provavelmente, as 6 no Inverno. Para os mais ricos - quer através do seu trabalho, quer dos rendimentos das propriedades agrícolas - as tardes eram livres.

Para as classes abastadas, o almoço era, como o pequeno-almoço, uma combinação de restos, queijo, fruta, pão, comida básica com o mínimo de preparação. Para as classes trabalhadoras, necessitadas de um reforço de energia para o resto da jornada, o almoço seria mais substancial. O proletariado de Roma vivia nas insula, prédios de apartamentos, construídos em madeira sobre um rés-do-chão de pedra. Quanto mais elevado o andar, menores os rendimentos e menor a probabilidade de acesso a dispositivos de cozinha. A cozinha de rua ou, para ser mais preciso, a comida rápida seria habitual na dieta do proletariado - podemos imaginar um trabalhador a comprar empadas elaboradas com uma massa feita à base de azeite, recheadas com passas e carne picada; almôndegas; chouriços de sangue e miudezas; salsichas brancas com passas; patinae: a omelete (frittata) Romana recheada com carne, peixe ou vegetais. Tudo itens passíveis de ser encontrados tanto numa banca como em casa.

Thermopolium, Roma
(Fonte:  http://www.vroma.org/~bmcmanus/leisure.html)

Ao entardecer, os homens pertencentes às classes abastadas e os que entretanto tinham terminado a jornada de trabalho, frequentavam os Banhos (as mulheres utilizavam-nos a meio do dia). Exercícios, convívio, banhos, massagem, mudança de túnica, barba e o eventual corte de cabelo, a procura de um convite para jantar, lanche ligeiro e a volta a casa, constituíam a rotina diária.


A cena era uma refeição com um número fixo de tipos - três - ainda que o número de pratos em cada tipo fosse variável. Começava sempre com uma bebida - vinho com mel (mulsum) ou vinho condimentado (conditum, temperado geralmente com pimenta, ocasionalmente com tâmaras ou açafrão)

(Fonte:  http://www.katequinnauthor.com/blog.htm?tag=historically+obsessed)
Do gustatio - degustações - faziam tipicamente parte ovos e numerosos aperitivos para estimular o palato como patinae de ostra, de peixe, de tetas de porca, salada, azeitonas, pão, atum, isicia ou almôndegas, marisco de todos os tipos.

Os mensae primae - primeiras mesas (porque as mesas eram trazidas já postas) - compreendiam os pratos mais substanciais. Pernis, leitões, borregos e vitelos recheados, peixes assados, mais patinae, minutal ou guisados, enguias, lebre... a lista é infindável. Os diversos pratos eram servidos em travessas e tigelas, sendo provável que o conviva tivesse um pequeno prato a partir de onde comeria. Comia-se com a mão ou com colheres, sendo disponibilizadas facas caso não estivesse presente um escravo trinchador. No prato, colocava-se apenas uma pequena porção e o processo de degustação era lento e cadenciado, ao invés dos modos rápidos do presente. Normalmente, a refeição durava horas. A posição dos vários itens na mesa, bem como a disposição dos convidados pareciam ser assunto de importância capital já que nem todos as comidas eram alcançáveis a partir de todos os lugares.

Finalmente, as mensae secundae - "segundas mesas" ou sobremesas -, incluíam frutas, frutos secos e, ocasionalmente, bolos de mel. (...)"

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